Cabe Junho em Janeiro?

Somente percebemos o valor de manter uma tradição, quando percebemos que ela está ficando no passado, nos afastando da nossa cultura. Nossa cultura é nossa casa. E o que nos aproxima da nossa cultura é manter nossas tradições vivas, em constante desenvolvimento.
Quando você está no seu país, a sua cultura está enraizada em você, e suas tradições estão presentes no seu cotidiano. Você simplesmente vive aquilo. Seu fevereiro tem Carnaval, seu aniversário tem brigadeiro e seu junho tem Festa Junina.
O que dizer então, da Capoeira, da Feijoada, de pular sete ondas no Réveillon e o melhor de tudo, o pagode e a caipirinha em um domingo com churrasco?
Coisas simples que não acontecem naturalmente quando se está longe.
Depois que eu e minha família nos mudamos para os Estados Unidos, lutamos para manter vivas as nossas tradições brasileiras.
Todos sabem que há muita luta quando se mora em outro país, mas com certeza, uma das maiores lutas está em manter a nossa cultura.
Para começar, não é tão simples encontrar farinha de mandioca para uma simples farofa que vai acompanhar nossa feijoada aqui, do outro lado do mundo. Paio então, raridade! A paçoca é requisito obrigatório para quem vem visitar. E, pode acreditar, já fui em muitos aniversários tristes, sem sequer um brigadeiro!
Mas, hei de vencer! Sou brasileira. E como se sabe brasileiro não desiste nunca! [Só para lembrar que essa frase também é só nossa!].
Cito alguns exemplos dessa minha perseverança, como por exemplo, que em nossa casa não faltam brigadeiro, feijoada ou arroz com feijão e bife.
Mas, entre tantas tradições, uma realmente nos fazia falta.
E, nessa época de frio aqui, uma música insiste em tocar na minha cabeça. Ela me invade e me consome. E, cada vez que se acende uma fogueira, num encontro com amigos no quintal, ela volta e volta, incansável:
– “Pula a fogueira iaiá, pula a fogueira ioiô…”
Decido. Necessito de uma Festa Junina!
Mas, Festas Juninas são em junho e junho aqui é calor de 40°C! [Esquece o quentão!].
Pois então, tem que ser agora ou nunca!
Reúno alguns amigos brasileiros aqui – brasileiros estão em todos os lugares -, e sem hesitar, concordam em fazermos nossa primeira ‘Festa-Quase-Junina’: nossa ‘Festa Janina!’.
Segundo o Fabio, meu marido:
– “Junina – Janina!”.
Era isso que faltava!
Perfeito!
E aí uma nova tradição se inicia para nós, brasileiros que vivemos um pouquinho longe do Brasil. A tradição de manter a tradição.
Assim, entre bandeirolas de falsa chita, paçoca importada e bolo de milho de receita de Vó, tirada do caderninho trazido na mala, em cada janeiro nosso aqui, o calor da fogueira não só aquecerá nosso corpo, mas sim, nosso coração, que vive cheio de saudade.
E a música que outrora invadia meus pensamentos, a partir de hoje, irradia meu lar!